MULHERES
SEMENTES
Desde que me entendo por gente
fui levada por minha mãe à participar de projetos voluntários. Já participei de
projetos de todas as formas que vocês possam imaginar. Porém, depois de quase 30
anos de trabalhos em comunidades carentes e com pessoas em situações de
risco, comecei a pensar que cuidar de
tantas necessidades (financeiras, psicológicas, familiares, etc...) era
praticamente impossível em um só projeto, pois por mais que fizéssemos por
algum membro da família, outros
problemas continuavam.
A grande questão portanto teria
que ser conseguir uma mudança estrutural em toda a família. Foi então que uma
ideia (iluminada!!) surgiu... Eu sempre amei trabalhar com gestantes e pensei
que elas sim, poderiam ser o canal para essa mudança familiar. Deveríamos criar
o vínculo com o bebê, refazer os vínculos com os outros filhos e dar uma
assistência completa a essa família, tudo através dessa mulher. Elas seriam a
semente! Elas implantariam os valores e criariam um lar. Todo o resto se
arrumaria por si só...
E assim começou muito modesto em
2011, numa salinha emprestada o projeto “Mãe Cidadã”. Eram cerca de 8 mulheres no primeiro encontro
e na verdade mal sabíamos realmente como conduziríamos todos os nossos planos
até porque eles demandavam muitos recursos financeiros.
Divulguei que precisava de
voluntárias em meu grupo “psicólogos do bem” que eu já mantinha desde 2003, de
preferência estudantes de psicologia ou psicólogos. Infelizmente o retorno foi
muito pequeno, apenas 1 pessoa respondeu ao meu chamado e ela nem era psicóloga,
mas para quem está com vontade, duas
pessoas já são suficientes. Para custear o projeto lancei aulas online (que na
época era super novidade) para psicólogos. Essas aulas eram pagas e com o dinheiro
comprávamos os passes de ônibus, enxoval e lanche. Era um verdadeiro milagre!
A base do projeto eram reuniões
mensais onde essas mulheres (assim como as gestantes dos planos de saúde)
receberiam em forma de palestras, orientações sobre a gestação e família. Nosso
público alvo eram gestantes em situação de risco. Divulguei o projeto em postinhos
de saúde da cidade e para meu espanto,
fomos muito indicados pelos profissionais que ali trabalhavam. A demanda se
tornou incrível: meninas de 12 anos, mulheres abusadas sexualmente, mulheres
com histórico de violência familiar, etc. Todas com histórias pessoais fantásticas.
Além das palestras, as mulheres
receberiam o passe (para poder ir e vir das reuniões) e também um pouquinho de
enxoval a cada encontro que para nós poderia ser o incentivo que elas
precisavam para participar. Pensamos que pela dificuldade financeira elas
acabariam se deslocando e “caindo na nossa armadilha”. Buscariam enxoval e receberiam educação.
Logo as reuniões passaram a ser
quinzenais pois os temas eram muitos: de amamentação à banho, passando por
direitos trabalhistas das gestantes e pós parto até orientação sexual e
familiar. Reuniões extras eram agendadas porque elas queriam conversar!! O
enxoval era sim importante, mas para elas, poder se reunir e dividir suas
mazelas era o céu. Falar de suas dúvidas como mãe, como esposa, como
mulher...Em pouquíssimo tempo tornamos as reuniões semanais e elas recebiam
informações sobre todos os seus papéis e dávamos ênfase no vínculo com o bebê e
com os outros filhos. Só quem participou sabe o quanto eram ricos os momentos
de conversa com essas mulheres- guerreiras maravilhosas, abrindo suas vidas, buscando força uma nas outras e querendo
crescer.
Logo éramos cerca de 6
voluntários estudantes de psicologia ,
eu que já era psicóloga e vários profissionais da cidade que passaram a se oferecer voluntariamente
para orientar essas mulheres. Advogados, enfermeiros, ginecologistas, etc. As
coisas começaram a acontecer... E passamos a oferecer muito mais a cada
reunião.
Em três meses de projeto criei em
minha casa uma central para receber doações que começaram a aparecer de todos
os lados e sem qualquer divulgação: eram roupas, berços, fraldas, móveis,
etc... Minha casa parecia um depósito! Passei a dormir no quarto com minha
filha para poder colocar as doações no meu.
Logo expandimos o projeto para os
filhos que essas mulheres já tinham. Conseguimos um local maior (afinal tínhamos
40 vagas), com outra sala para que os filhos pudessem, enquanto as mães
assistissem as palestras, ficarem com as estagiárias de psicologia e
trabalhassem suas próprias dificuldades. Eles ganhavam uma “mini cesta”:
bolachas, doces, leite, brinquedos e itens de higiene.
Os maridos e pais passaram “a ter
vez” e eram convidados em algumas reuniões para trabalharmos a família. Eram as
reuniões mais divertidas com dinâmicas, muita risada, declarações de mudança de
vida e muito choro.
Foi com muita alegria que vimos
famílias se transformarem... O amor, o respeito, a cumplicidade foram plantados
nesses lares. O Psicólogos do Bem e eu (Karina Rodrigues, como idealizadora)
ganhamos prêmios por esse projeto e ele se fortificou por si só. Com meu
mestrado em Educação na FUNIBER o projeto se fortaleceu ainda mais pois minha ênfase no curso foi em educação à
distância. Isso fez com que repensássemos o alcance do projeto e estamos estruturando uma plataforma virtual
que atenderá mãezinhas em situação de
risco em todo o Brasil. Com recursos usados na Europa (meu mestrado foi pela
UNIVERSIDAD de JAÉN na ESPANHA pela FUNIBER) faremos algo a nível global.
Hoje, perdemos o local de
atendimento, mas como tudo que fazemos de bem tem o seu retorno, estamos
terminando o projeto de construção da nossa sede própria! Agora com o nome de INSTITUTO
ÂNIMA, teremos 2 andares, sendo um salão
de cursos totalmente equipado e 7 salas de atendimento. Um lugar muito especial com muita natureza e
equipamentos modernos. Tudo construído com acessibilidade e alguns de nossos
profissionais atenderão inclusive deficientes auditivos.
Voltaremos com
o projeto “ Mãe Cidadã” em 2016 com força total, de forma presencial e à distância, levando
conhecimento, educação, orientação e a esperança maravilhosa para mulheres de
todos os cantos do Brasil.
Meu nome é
Karina Rodrigues, sou psicóloga, professora, mestre, mãe e mulher.
Espero que
essas linhas inspirem e transformem. GRATIDÃO
PRIMEIRA REUNIÃO EM 2011- 8 MULHERES
EU E A PRIMEIRA VOLUNTÁRIA MÁRCIA GORI
MEU PORTA MALA DO CARRO- SEMPREEE LOTADO DE DOAÇÕES
REUNIÃO EM 2012 JÁ NO ESPAÇO NOVO- AULA DE SHANTALA: MASSAGEM EM BEBÊS
TODA REUNIÃO ELAS RECEBIAM UM MIMO: